Saldo do Dia: Saída de Jean Paul Prates levou empresa a perder mais de R$ 35 bilhões de valor de mercado e afundar o índice brasileiro apesar de melhores perspectivas vindas do exterior e recordes em NY
Quando finalmente as coisas parecem estar tomando os rumos favoráveis lá nos Estados Unidos, uma notícia doméstica puxa o principal índice acionário da bolsa brasileira, o Ibovespa para trás. A saída do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates derrubou os papéis da estatal. Com representação de 13% da carteira teórica, a petroleira foi capaz de neutralizar o bom humor vindo do exterior. Enquanto isso, ao norte do Equador, as bolsas de Nova York atingiram recordes.
Demissão surpresa? Não exatamente. Rusgas com ministros e o saculejo ao anunciar uma retenção de dividendos (que foi parcialmente revertida depois de uns meses) já vinham enfraquecendo o executivo que comanda a empresa desde o início do terceiro governo Lula. Nos bastidores, Prates lamentou a saída, que ocorreu na mesma semana em que a empresa apresentou balanço do primeiro trimestre deste ano com números abaixo das expectativas.
- Neste contexto, o Ibovespa teve a sequência de altas da semana interrompida, com queda de 0,38% hoje, aos 128.028 pontos. Na semana, retém valorização de 0,34%. No mês, acumula ganhos de 1,67%. No ano, contudo, segue com perdas de 4,59%. Confira mais detalhes do pregão aqui.
Com a saída de Prates, o próximo a ocupar o cargo será o sexto desde 2019. Diferentemente de trocas anteriores, a chegada do ex-senador petista foi bem recebida pelo mercado, sem grandes oscilações. No entanto, a saída dele trouxe perdas de R$ 35,5 bilhões para o valor de mercado da empresa, com quedas de 6,78% nos papéis ordinários (PETR3, com direito a voto em assembleia) e 6,04% nos preferenciais (PETR4, com preferência na distribuição de dividendos).
O movimento de queda é comum e até esperado quando há uma troca de comando de empresas. Mas no caso da Petrobras preocupa ainda mais pela desconfiança de interferência política na empresa. Dentre os casos mais recentes, houve momentos em que as ações da empresa levaram cerca de um ano para voltar aos níveis de preço que estavam antes da canetada no cargo de presidente.
“A troca no comando da empresa agora, reforça o sentimento de que o governo quer influenciar mais nas decisões da empresa do que estava conseguindo com Prates. Isso sinaliza que o curriculum do indicado ou indicada não seja principal ponto a ser observado e sim o alinhamento político com governo central”, Jorge da Silva, operador sênior da Renda Variável da RJ+ Investimentos.
Para Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, a demissão de Prates pega muito mal neste momento e contribui para agravar a saída de capital estrangeiro da bolsa. “Poucos dias atrás, a Petrobras estava sendo negociada próxima da sua máxima histórica. O mercado colocava no preço a forte geração de caixa, consequentemente distribuindo bons dividendos para seus acionistas, além da perspectiva da empresa ser uma das maiores no setor de petróleo e gás, estando bem posicionada em um cenário que o Brasil pode ser um dos maiores produtores daqui uns anos”, afirma.
