Os fundos de investimentos registraram captação líquida positiva de R$ 40,1 bilhões no mês de abril. No ano, o acumulado em volume foi de R$ 150,8 bilhões. Entre os ativos, porém, a classe de fundos multimercados perdeu R$ 12,3 bilhões de recursos, representando em um ano queda de R$ 41,3 bilhões.
Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostraram que Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, explica que não só nos últimos meses, mas também nos últimos anos o desempenho dos fundos multimercados frustrou as expectativas do investidor.
“Tivemos alguns fatores que ocorreram nesse período que não favoreceram essa classe de fundos. Passamos por cenários adversos nos últimos quatro anos, quando a partir de 2020 passamos por uma pandemia, uma situação que, com certeza, não estava prevista por economistas, gestores de fundos ou nenhum modelo matemático. Tal crise ocasionou perdas consideráveis em vários fundos diante de tantas incertezas, com a desvalorização no mercado de ações, forte abertura da curva dos juros futuros, aumento dos spreads de crédito nos papeis privados e desvalorização do real”, diz Ana Paula.
A planejadora financeira explica que, no ano seguinte, a inflação passou dos 10%, o que fez com que o Banco Central subisse as taxas de juros ao patamar de dois dígitos, chegando em 2022 a 13,75%. “Além desses fatores, ainda tivemos um ponto muito importante que foi a elevação das taxas de juros nos EUA, impactando negativamente a atratividade de ativos de risco, que inclui os do Brasil”, explica.
Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, concorda que o ano está difícil não só para os fundos multimercado. Segundo ele, dos principais indicadores do mercado, apenas o dólar está superando o CDI. Todas as outras grandes classes, mesmo as de renda fixa, estão tendo rendimentos aquém. “Geralmente nesses momentos de mercados complexos, os fundos multimercados podem ser alternativas interessantes. Isso porque, diferentemente de gestores de renda fixa ou de ações, os fundos multimercados têm mais liberdade de gestão, podendo operar contra o mercado, mas não é isso que estamos vendo em 2024, vide IHFA com prejuízo neste ano”, comenta.
Para Fonseca, o ano está decepcionante, pois a maioria dos agentes de mercado estavam otimistas de que os juros americanos começariam a cair, impactando nos juros do mundo todo, inclusive no Brasil, e não foi o que aconteceu. “
O início de corte de juros por parte do FED (banco central dos EUA) que o mercado esperava iniciar em março ficou para o final do ano. Como juros americanos é o principal ativo do mundo, parte do capital dos investidores mundo afora continuou em renda fixa em dólar, deixando de lado ativos de risco”, explica. Em meio a esse cenário, o economista não vê com otimismo o desempenho da classe de fundos multimercados neste ano.
“Acreditamos que será um ano difícil, dado a mudança na condução de política monetária por parte do FED e, consequentemente, no Brasil. Isso porque há pouca distorção de curto prazo. Acredito que tanto a bolsa, quanto ativos de renda fixa, principalmente os de risco soberano, estão em patamares atrativos no longo prazo, mas no curto prazo não acredito que haja muitas oscilações atrapalhando”, acrescenta.
Entre as oportunidades, Fonseca aponta que no geral estão se destacando os multimercados voltados ao mercado internacional. Isto porque, mesmo em meio a juros mais altos, as bolsas americanas ainda performam bem. S&P500, Doe Jones e Nasdaq sobem 11,18%, 6% e 11,16% no ano. “A subclasse de multimercado que está se destacando é a de investimentos específicos, o que não nos ajuda a tirar nenhuma conclusão, e os voltados ao mercado internacional”.
Cassiana Garcia, planejadora financeira CFP e sócia-fundadora da The Hill Capital, por outro lado, explica que, com a queda da Selic, os investidores se depararam com um cenário de rendimentos menores na estratégia de Renda Fixa, o que faz os investidores buscarem alternativas de melhores rendimentos. “Logo os fundos multimercado tendem a apresentar um potencial de retorno maior pela facilidade que o gestor tem de diversificar os recursos globalmente e, com isso, abstrair melhores resultados na carteira, por poder acessar todos os mercados”, diz.
Ela recomenda sempre ao investidor buscar orientações com seu assessor de investimentos. Mas, para ela, a estratégia de fundos multimercados pode ser equilibrada entre si, buscando uma descorrelação das estratégias, e respeitando o perfil de cada investidor. “Hoje na The Hill Capital recomendamos alocar nessa estratégia até 7,5% para o perfil conservador, 13,5% para o perfil moderado e até 17,5% para o perfil arrojado”, completa.
Tipos de fundos
Entre os tipos de fundos multimercado, Lis Grassi, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, destaca os fundos do setor infra, o FI Infra, que é um fundo que investe no setor de infraestrutura.
“O governo entende que infraestrutura é essencial para o desenvolvimento econômico do país porque normalmente investe em projetos como concessão de rodovias, aeroportos, distribuição de energia, etc. Esses fundos geralmente investem em debêntures e incentivadas e isso aí dá uma isenção para o investidor no imposto de renda porque se está contribuindo para o desenvolvimento econômico do país. Então, esses fundos são isentos de imposto de renda. É uma forma de investir em fundo multimercado sem ter essa tributação”, comenta.
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