Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital conversou com o portal da BM&C News e analisou o pregão da bolsa brasileira.
Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital conversou com o portal da BM&C News e analisou o pregão da bolsa brasileira.
A queda hoje do Ibovespa pode ser atribuída a uma correção técnica devido a forte alta ao longo do mês de julho, visto que do dia 19/06 até 17/07 o Ibovespa subiu em linha reta mais de 8%, então uma correção é natural.
Além disso, temos as commodities hoje pesando no mercado global, com minério de ferro caindo e petróleo caindo, impactando negativamente ações que tem o maior peso no Ibovespa, como Vale e Petrobrás.
Entre as maiores altas, temos as ações da Embraer (EMBR3) mantendo sua tendência de alta e devolvendo a queda de ontem, e refletindo as boas perspectivas do mercado em relação a empresa, principalmente por conta da feira que está acontecendo na Inglaterra sobre o setor aéreo, a Farnborough International Airshow.
GPA (PCAR3) também sobe em correção técnica, e por fim Hapvida (HAPV3) refletindo o acordo de built-to-suit junto à gestora Riza, liberando CAPEX para a empresa.
Entre as maiores quedas, temos as ações ligadas às commodities metálicas devido principalmente à forte queda do minério de ferro na China. Com isso, caem Gerdau (GOAU4 e GGBR4), CSN (CSNA3) e CSN Mineração (CMIN3).
Os juros futuros sobem refletindo ainda o relatório bimestral de receitas e despesas divulgado ontem pelo Governo, demonstrando um maior aumento nas despesas obrigatórias, e projetando o resultado das contas públicas para um déficit de -0,3%, próximo ao limite da banda de baixo da meta fiscal de 2024. Isso vem causando estresse no mercado, que começa a colocar no preço que o Governo não deve conseguir bater a meta, mesmo no limite inferior da banda se não anunciar mais cortes de gastos.
O dólar seguiu o mesmo movimento, “turbinado” também pelo fortalecimento do dólar no mundo, que hoje sobe em relação a todas as moedas, com exceção do iene japonês. O elemento da queda das commodities contribui para a alta do dólar, na minha visão.
O impacto da queda das commodities acaba fortalecendo o dolar contra moedas de países que sao fortes exportadores, muito por conta das commodities contribuírem por uma fatia alta na balança comercial desses países, ou seja, quanto mais baixo o preço das commodities, pior a balança comercial desses países, causando assim uma aversão a risco por parte dos investidores em se expor a esses países.
No nosso cenário local, o mercado ainda reflete o relatório bimestral de despesas e receitas, divulgado ontem pelo governo, mostrando um aumento expressivo nas despesas obrigatórias.
Apesar do déficit projetado se encontrar na banda inferior da meta de déficit zero para 2024, o mercado coloca no preço que o governo está subestimando o aumento das despesas obrigatórias e mesmo um déficit de -0,25% do PIB em 2024 pode correr perigo de não ser atingido. E o número pode ser pior caso o governo não apresente cortes de gastos efetivos para bater a meta.
Já percebemos que o Congresso, por meio de Arthur Lira, já se posicionou contra o discurso de mais arrecadação, sugerindo ao ministro Haddad que comece a pensar em cortes de gastos para melhorar as contas públicas. Isso vem sendo refletido também nos preços e causando mais estresse no mercado, visto que qualquer pauta para tentar arrecadar mais pode ser barrada no congresso causando escassez nas opções do governo para ajustar o cenário fiscal no Brasil.
Para a semana, o dado mais esperado é o PCE nos EUA, é o dado que o FED gosta de acompanhar, para verificar o rumo da inflação americana, e tomar suas decisões de política monetária. O dado será divulgado na sexta-feira.
Além dele, teremos antes o balanço da Vale (VALE3) a ser divulgado na quinta-feira após o fechamento do mercado, com uma boa perspectiva do mercado sobre o resultado, que deverá apresentar uma alta próxima de 100% na comparação com o 2° trimestre de 2023, por conta da alta do preço do cobre e a alta do dólar que tem impacto positivo nos balanços das empresas exportadoras.